VELHICE
depois de todas as tragédias
que resta para viver?
uma rotina doméstica
um amor tequila
uma paisagem ecstazy
uma praia de cães histéricos
recordações rememoradas vezes sem conta
por velhos amigos saudosistas relapsos e frouxos
em esplanadas com vistas para gajas que nos fodem os miolos
e depois? ah os aniversários, as festas e as comemorações banais
os casamentos acabados bestialmente em cornos bestiais
os eventos privados de suites bacanais
swings sodomitas e escapadelas amantes
as saídas de emergência apressadas de armários e guarda-fatos
fruto de longas insónias meditadas à mesinha de cabeceira
ou na net puta toda a tua imaginação rameira
deram lugar a distintos funerais e divórcios da vida
um dia estaremos impávidos e serenos na nossa missa de
corpo-presente
espreitando o sorriso do nosso cadáver triste
inaceitável e incrível: mas fica mal faltar, compreendes?
Dinis H. G. Nunes
(Sulscrito #10)