ANJO ENFERMO
Geme no berço, enferma, a criancinha,
Que não fala, não anda e já padece...
Penas assim cruéis por que as merece
Quem mal entrando na existência vinha?!
Ó melindroso ser, ó filha minha!
Se os céus ouvissem a paterna prece,
E a mim o teu sofrer passar pudesse,
-- Gozo me fora a dor que te espezinha.
Como te aperta a angústia o frágil peito!
E Deus, que tudo vê, não t'a extermina,
Deus que é bom, Deus que é pai, Deus que é perfeito
Sim, é pai, mas -- a crença no-lo ensina:
-- Se viu morrer Jesus, quando homem feito,
Nunca teve uma filha pequenina!...
Afonso Celso
Evaristo Pontes dos Santos, Antologia Portuguesa e Brasileira