17
Jun 13

ERVA

Amontoem cadáveres em Austerlitz e Waterloo,

Enterrem-mos bem e deixem-me à solta --

          Eu sou a erva, escondo tudo.

 

Montes de corpos em Gettysburg

E montes de corpos em Ypres e Verdun.

Enterrem-mos bem e deixem-me à solta.

Dois anos, dez anos, e os passageiros para o condutor:

          Que sítio é este?

          Agora, onde estamos?

 

          Eu sou a erva,

           Deixem-me à solta.

 

Carl Sandburg

Jorge de Sena, Poesia do Século XX

publicado por RAA às 19:28 | comentar | favorito
17
Jun 13

ADOLESCÊNCIA

Na varanda, um instante

ficámos os dois sós.

Desde aquela manhã

tão doce, éramos noivos.

 

-- Sonolenta, a paisagem

dormia em vagos tons

sob o céu gris e rosa

do poente de outono --.

 

Disse que ia beijá-la;

baixou, serena, os olhos

e ofereceu-me as faces

como perdendo um tesouro.

 

-- Caíam folhas mortas

no jardim silencioso,

e no ar errava ainda

um olor de girassóis --.

 

Não se atrevia a olhar-me;

disse eu que éramos noivos,

... e as lágrimas rolaram-lhe

dos olhos melancólicos.

 

Juan Ramón Jimenez,

Antologia Poética

trad.: José Bento 

publicado por RAA às 13:10 | comentar | favorito