01
Jul 13

GAZETILHA

Dos Lloyd Georges da Babilónia

Não reza a história nada.

Dos Briands da Assíria ou do Egito,

Dos Trotskys de qualquer colónia

Grega ou romana já passada,

O nome é morto, inda que escrito.

 

Só um parvo dum poeta, ou um louco

Que fazia filosofia,

Ou um geómetra maduro,

Sobrevive a esse tanto pouco

Que está lá para trás no escuro

E nem a história já historia.

 

Ó grandes homens do Momento!

Ó grandes glórias a ferver

De quem a obscuridade foge!

Tratem da fama e do comer,

Que amanhã é dos loucos de hoje!

 

Fernando Pessoa / Álvaro de Campos,

presença #18, Coimbra, 1929

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01
Jul 13

COLEGIAL

Em cima da minha mesa,

Da minha mesa de estudo,

Mesa da minha tristeza

Em que, de noite e de dia,

Rasgo as folhas, leio tudo

Destes livros em que estudo,

E me estudo

(Eu já me estudo...)

E me estudo,

A mim,

Também,

Em cima da minha mesa,

Tenho o teu retrato, Mãe!

 

À cabeceira do leito,

Dentro dum lindo caixilho,

Tenho uma Nossa Senhora

Que venero a toda a hora...

Ai minha Nossa Senhora

Que se parece contigo,

E que tem, ao peito,

Um filho

(O que ainda é mais estranho)

Que se parece comigo,

Num retratinho,

Que tenho,

De menino pequenino...!

 

No fundo da minha mala,

Mesmo lá no fundo a um canto,

Não lhes vá tocar alguém,

(Quem as lesse, o que entendia?

Só riria

Do que nos comove a nós...)

Já tenho três maços, Mãe,

Das cartas que tu me escreves

Desde que saí de casa...

Três maços -- e nada leves! --

Atados com um retrós...

 

Se não fora eu ter-te assim,

A toda a hora,

Sempre à beirinha de mim,

(Sei agora

Que isto de a gente ser grande

Não é como se nos pinta...)

Mãe!, já teria morrido,

Ou já teria fugido,

Ou já teria bebido

Algum tinteiro de tinta!

 

José Régio,

As Encruzilhadas de Deus

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