EM TEMPO ALHEIO
Peço desculpa de ser
o sobrevivente.
Drummond, As Impurezas do Branco
Demasiados mortos para a
minha memória
O dia está aí um projector nos rostos
que repetem
cenas, deslocando-se entre os móveis
polidos pelos anos e as árvores, com falas retardadas
Não há quem sobreviva a ninguém no cenário
são somente aparências o que está
e o que falta,
todos em cada um,
enquanto ausentes o habitam como casa
em tempo alheio
Deixastes toda a esperança vós que entrastes
na memória
Gastão Cruz,
Rua de Portugal / O Escritor #22
(Lisboa, 2007)