25
Jul 13

UM DESENHO DE JÚLIO

     São Pequenos para nós os jardins desta pequena cidade, com suas ruas estreitas, sua igrejinha envergonhada, e a janela em que me debruço todas as tardes à tua espera. Por isso, às vezes, o amor é tão difícil para nós.

     Mas quando passas devagar à minha porta, a brisa e o sol ganham poderes. E com a flor que dos dedos te nasce pela tarde, sobes então por dentro de mim -- e no ar ficas suspensa à minha espera.

 

     E ninguém sabe, ninguém vê -- é a nossa hora.

 

10/8/2000

 

João Pedro Mésseder,

Série Poeta -- Homenagem a Júlio / Saul Dias

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25
Jul 13

MARCHA QUASE FÚNEBRE

Silencioso e tranquilo

Como um rastro de desgraça,

No outro lado da praça,

O lento cortejo passa

Das meninas do asilo.

 

São todas órfãs? -- Pior:

São todas tristes e feias.

Saias pretas, grossas meias...

Corre-lhes sangue nas veias

Por milagre do Senhor.

 

Que fazem durante o dia?

-- Aprendem a soletrar.

A coser... E o sol? E o ar?

Quando pensam em lhes dar

Uma lição de alegria?

 

Carlos Queirós,

Desaparecido

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