UM BARCO
Corre um barco no sulco do canal
mais longínquo da ria; enquanto passo
para o poema o seu percurso, faço
morrer a imagem branca que imortal
há pouco parecia; agora o espaço,
que da mancha mortal, ponto de cal,
livre ficou, um troço é afinal
do ramo de água que na tarde traço,
a sucessão olhando de um e e outro
avulso braço da laguna fria,
e desfaço, no verso onde esse barco
naufragou quando quase ainda o via,
correndo e já ausente, breve potro,
na distância da água vivo rastro
Gastão Cruz,
in O Escritor #22
(Outubro 2007)