27
Jun 14

"O boi morreu naquela madrugada de Abril."

O boi morreu naquela madrugada de Abril.

António adormecera a seu lado, caído de sono nas palhas.

Quando acordou, a candeia velava ainda e o boi-amigo morto.

Morto. Bezerrinho, custara sete notas na feira de Ancião.

Cacilda chorou silenciosamente; os filhos acariciaram o lombo,

trémulos de medo e espanto.

Abril e a terra por lavrar.

Abril e daí a meses o milho sem o dorso rijo do boi a caminho da eira.

O pasto apodrecendo no monte.

As oliveiras por amanhar.

Abril, madrugada, e o boi-amigo morto.

Deus nos perdoe: Antes se fosse gente.

 

Fernando Namora, Terra

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27
Jun 14

MAIO MADURO MAIO

Maio maduro maio

Quem te pintou

Quem te quebrou o encanto

Nunca te amou

Raiava o Sol já no Sul

E uma falua vinha

Lá de Istambul

 

Sempre depois da sesta

Chamando as flores

Era dia de festa

Maio de amores

Era dia de cantar

E uma falua andava

Ao longe a varar

 

Maio com meu amigo

Quem dera já

Sempre depois do trigo

Se cantará

Qu'importa depois do trigo

Se cantará

Qu'importa a fúria do mar

Que a voz não te esmoreça

Vamos lutar

 

Numa rua comprida

El-rei pastor

Vende o soro da vida

Que mata a dor

Venham ver, Maio nasceu

Que a voz não te esmoreça

A turba rompeu

 

José Afonso

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