02
Jul 14

SONETO MORAL

Horas breves do meu contentamento

Nunca me pareceu, quando vos tinha,

Que vos visse mudadas tão asinha

Em tão compridos anos de tormento.

 

Os meus castelos, que fundei no vento,

O vento mos levou, que mos sostinha,

Do mal, que me ficou, a culpa é minha,

Pois sobre as cousas vãs fiz fundamento.

 

Amor com falsas mostras aparece,

Tudo possível faz, tudo assegura,

E logo no melhor desaparece.

 

Oh dano grande, oh grande desventura!,

Que, por pequeno bem, que em fim falece,

Se aventura um bem que sempre dura!

 

Infante D. Luís

(M.ª Ema Tarracha Ferreira,

Antologia Literária Comentada - Século XVII)

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02
Jul 14

...

Em certos dias

há um júbilo de claridade

um domínio absoluto de rectidão

e louvor

às vezes, basta um ínfimo gesto

para acender a palavra branca

a voragem da sílabas

na orla da tinta.

 

Fernando Jorge Fabião,

Na Orla da tinta

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