SONETO MORAL
Horas breves do meu contentamento
Nunca me pareceu, quando vos tinha,
Que vos visse mudadas tão asinha
Em tão compridos anos de tormento.
Os meus castelos, que fundei no vento,
O vento mos levou, que mos sostinha,
Do mal, que me ficou, a culpa é minha,
Pois sobre as cousas vãs fiz fundamento.
Amor com falsas mostras aparece,
Tudo possível faz, tudo assegura,
E logo no melhor desaparece.
Oh dano grande, oh grande desventura!,
Que, por pequeno bem, que em fim falece,
Se aventura um bem que sempre dura!
Infante D. Luís
(M.ª Ema Tarracha Ferreira,
Antologia Literária Comentada - Século XVII)