O INTERVALO
Sem palavras, sem gestos, sem um esforço,
Que a vida, francamente, nos mereça,
Quantas vezes pendemos a cabeça
E os braços, como ao peso dum remorso!
Interrogamos a memória -- e ela
Finge que nada sabe; a consciência,
Também nada nos diz. Feliz ausência!
-- Contudo, o tempo está de sentinela.
Como ovelhas perdidas na montanha,
Que não ouvissem do pastor a avena.
Cismamos em que nada vale a pena...
E esperamos que o novo dia venha.
Carlos Queirós, Desaparecido