O INTERVALO

Sem palavras, sem gestos, sem um esforço,

Que a vida, francamente, nos mereça,

Quantas vezes pendemos a cabeça

E os braços, como ao peso dum remorso!

 

Interrogamos a memória -- e ela

Finge que nada sabe; a consciência,

Também nada nos diz. Feliz ausência!

-- Contudo, o tempo está de sentinela.

 

Como ovelhas perdidas na montanha,

Que não ouvissem do pastor a avena.

Cismamos em que nada vale a pena...

E esperamos que o novo dia venha.

 

Carlos Queirós, Desaparecido

publicado por RAA às 13:45 | comentar | favorito