SOLO DE VIOLINO
Se acordo e relembro o que sonho,
Maria, não saias daqui!
-- Que monstro barbudo e bisonho
Em sonhos medonhos eu vi!
Às vezes não lembro o que sonho...
A lua fugia do barco
E o barco roçava um salgueiro...
Eu chorei e os sapos do charco
Gritaram! E eu vi o barqueiro
À lua, caindo do barco...
A água gemia harmonia
E o barco seguia sem rumo;
À proa, de pedras par'cia
Meu corpo de lívido aprumo.
..................................................
Às vezes não lembro o que sonho.
Se lembro... não saias, Maria!
Sòzinho parece medonho
Meu sonho de barco sem rumo.
Olavo d'Eça Leal,
presença #12,
9 de Maio de 1928