"Veio, primeiro, pura"
Veio, primeiro, pura,
vestida de inocência;
amei-a como a um menino.
Logo se foi vestindo
de não seu eu que roupagens;
fui odiando-a, sem saber.
Chegou a grande rainha,
faustosa de tesouros...
Que fúria de fel sem sentido!
Mas foi-se desnudando
e eu lhe sorria.
Quedou-se apenas na túnica
de sua inocência antiga.
De novo acreditei nela.
Despiu então sua túnica
e surgiu desnuda toda...
Paixão da minha vida, poesia,
desnuda e minha para sempre!
Juan Ramón Jimenez
in Jorge de Sena, Poesia do Século XX (1978)