AMARGUINHA
Minetes
em gajas ácidas
só dão
amargos de boca
Dick Hard, De Boas Erecções Está o Inferno Cheio
Minetes
em gajas ácidas
só dão
amargos de boca
Dick Hard, De Boas Erecções Está o Inferno Cheio
Pense rápido:
Produto Interno Bruto
ou
brutal produto interno
?
Antonio Carlos de Brito,
in Heloisa Buarque de Hollanda, 26 Poetas Hoje (1976)
Fui-te à cona, fui-te ao cu
obriguei-te a fazer broche
fiz-te vir em catadupas
mas no fim fui teu fantoche
Dick Hard, De Boas Erecções Está o Inferno Cheio
Havia um menino
que tinha um chapéu
p'ra pôr na cabeça
por causa do Sol:
em vez de um gatinho
tinha um caracol
tinha um caracol
dentro do chapéu.
Fazia-lhe cócegas
no alto da cabeça,
por isso ele andava
depressa, depressa,
p'ra ver se chegava
a casa e tirava o chapéu,
saindo
de lá e caindo
o tal caracol.
Mas era, afinal,
impossível tal,
nem fazia mal
nem vê-lo, nem tê-lo
porque o caracol
era de cabelo!
Fernando Pessoa,
in Maria de Lourdes Varanda & Maria Manuel Santos,
Poetas de Hoje e de Ontem
do Século XII ao XXI
para os Mais Novos
Quero a Noite completa, desumana.
A Noite anterior. A Noite virgem
de mim. A Noite pura. Quero a Noite,
aonde é impossível encontrar-te.
Que não há rio nem rua nem montanha
nem floresta nem prado nem jardim
nem pensamento algum nem livro algum
em que não me apareças sorridente.
Sebastião da Gama,
Pelo Sonho É que Vamos
A rua é ainda a mesma. As mesmas flores,
o mesmo sol que nada nos recorda.
O mesmo sonho triste e papa-açorda
em que se esvaem as humanas dores!
Nada mudou nestes dois anos. Só
tua casta presença me falece.
Relembro, a medo, a solitária prece,
que o teu vulto sereno me ensinou.
Tão pouco peço, Deus! Entanto, os dias
começam e acabam como outrora...
Na velha casa, uma outra virgem mora;
alguém relê os livros que tu lias!
A blusa que vestias -- verde-mar,
como a recordo! -- era um segredo esquivo,.
Hoje é outra que a veste em teu lugar,
com o mesmo modo álacre, rubro, vivo!
Nada mudou. O mesmo sol, a rua
onde outrora, calados, nos olhámos,
o piano subtil, os mesmos ramos
de roseira silvestre...
-- Só a tua
casta presença grácil se perdeu:
doce lembrança musical, alado
e húmido olor de maresia -- véu
que envolve este retorno inesperado.
Daniel Filipe, A Ilha e a Solidão (1957)
in Manuel Ferreira, No Reino de Caliban I
O Vento enchia o Mundo. Mal deixava
lugar para a tremenda voz das ondas.
Mas era o Mar apenas que se ouvia.
Sebastião da Gama,
Pelo Sonho É que Vamos
Todos bebem o seu vinho,
De qualquer modo, -- mesmo os que não bebem:
Porque também é vinho o que concebem
Para esquecer o caminho.
A Poesia, é o meu vinho;
-- Que importa o que os outros bebem?!
Carlos Queirós,
Desaparecido
Medos de inferno, e esperanças de outro céu!...
Que a vida é toda a ciência que eu
pude aprender, e tudo o mais mentira.
A flor que foi é flor que já morreu.
Omar Khayyam,
in Jorge de Sena, Poesia de 26 Séculos (1972)