PRIMAVERA DE BALAS
Agarro
Na minha última humilhação
E sem ir embora da minha terra
Emigro para o Norte de Moçambique
Com uma primavera de balas ao ombro.
E lá
No Norte almoço raízes
Bebo restos de chuva onde bebem os bichos
No descanso em vez da minha primavera de balas
Pego no cabo da minha primavera de milhos
E faço machamba ou se for preciso
Rastejar sobre os cotovelos
E os joelhos
Rastejo.
Depois
Escondido em posição no meio do mato
Com a minha primavera de balas apontada
Faço desabrochar no dólman do sr. Capitão
As mais vermelhas flores florindo
O duro preço da nossa bela
Liberdade reconquistada
Aos tiros!
José Craveirinha,
in Manuel Ferreira, No Reino de Caliban III