SONETO
Não te mudei o nome nem a face
nem permiti que nada transformasse
minha imagem de ti em forma de arte.
Não te menti em nada. Para dar-te
a imagem do que eras (Um enlace
perfeito e harmonioso é o que dá-se
entre quem és e o esforço de cantar-te)
só deixei que os meus olhos te mostrassem
como o fundo de um poço ou como chama
onde secretas imagens perpassassem
as estrelas e as flores, o fogo e a lama
todo o mudo pudor que nunca há sem
os olhos destruídos de quem ama.
Mário António, Amor (1960)