24
Abr 16
24
Abr 16

SOLENEMENTE

Juro por tudo quanto é jura... Juro,

por mim... por ti... por nós... por Jesus Cristo

-- que hei-de esquecer-te! Vê-me: estou seguro

contre o teu sólio, a cuja queda assisto.

 

E, visto que duvidas tanto, visto

que ris do que, solene, te asseguro,

juro mais: pelo Ser em que consisto

por meu Passado, pelo meu Futuro,

 

Juro pela Mãe-Virgem concebida;

pelas venturas de que vou no encalço!

por minha vida!... pela tua vida...

 

Juro por tudo que mais amo e exalço!...

...E, depois de uma jura tão comprida,

juro... juro que estou jurando falso!...

 

Hermes Fontes

in Evaristo Ponte dos Santos,

Antologia Portuguesa e Brasileira (1974)

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11
Abr 16

NEM SÓ O SUL

Nem só o sul O'Neill nem só o sol
por debaixo da sombra há outras sombras
no interior da casa talvez na cama
sob os lençóis
no desejo reprimido na violência contida
no ancestral orgulho masculino
no grito abafado das mulheres
há outras noites outras sombras outras portas fechadas
outros domínios proibidos
outras coutadas.

 

 

Manuel Alegre, Alentejo e Ninguém (1996)

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11
Abr 16

SALGUEIRO MAIA

Aquele que na hora da vitória

Respeitou o vencido

 

Aquele que deu tudo e não pediu paga

 

Aquele que na hora da ganância

Perdeu o apetite

 

Aquele que amou os outros e por isso

Não colaborou com sua ignorância ou vício

 

Aquele que foi «Fiel à palavra dada à ideia tida»

Como antes dele mas também por ele

Pessoa disse

 

Sophia de Mello Breyner Andresen, Musa (1994)

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06
Abr 16
06
Abr 16

ORIENTE

Este lugar amou perdidamente

Quem o cabo rondou o extremo Sul

E a costa indo seguindo para Oriente

Viu as ilhas azuis do mar azul

...........................................................

Viu pérolas safiras e corais

E a grande noite parada e transparente

Viu cidades e nações viu passar gente

De leve passo e gestos musicais

 

Perfumes e tempero descobriu

E danças moduladas por vestidos

Sedosos flutuantes e compridos

E outro nasceu de tudo quanto viu

.............................................................

 

1988

 

Sophia de Mello Breyner Andresen, O Búzio de Cós (1994)

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