28
Jun 16
28
Jun 16

DEDICATÓRIA

Não

te ofereço

a rosa

mas

o nome

da rosa

 

que

serviria

meu amor

oferecer-te

a rosa

se dura

a rosa

pouco mais

que o tempo

em que te

digo        rosa?

 

Não te

ofereço

a rosa

mas

o nome

meu amor

do amor

da rosa

eco

do que te digo

repetido

e mais rosa

te ofereço

se é

rosa

o que redigo

 

(rosa por cem vezes repetido)

 

do que

te dar

a rosa

que

não

dizendo

então

de amor

desdigo

 

Rita Taborda Duarte,

Experiências Descritivas (2007) /

Leya Poemas (2009)

 

publicado por RAA às 00:22 | comentar | favorito
25
Jun 16
25
Jun 16

CHAMA E FUMO

Amor -- chama, e, depois, fumaça...

Medita no que vais fazer:

O fumo vem, a chama passa...

 

Gozo cruel, ventura escassa,

Dono do meu e do teu ser,

Amor -- chama, e, depois, fumaça...

 

Tanto ele queima! -- e, por desgraça,

Queimado o que melhor houver,

O fumo vem, a chama passa...

 

Paixão puríssima ou devassa,

Triste ou feliz, pena ou prazer,

Amor -- chama, e, depois, fumaça...

 

A cada par que a aurora enlaça,

Como é pungente o entardecer!

O fumo vem, a chama passa...

 

Antes, todo ele é gosto e graça.

Amor, fogueira linda a arder!

Amor -- chama, e, depois, fumaça...

 

Porquanto, mal se satisfaça,

(Como te poderei dizer?...)

O fumo vem, a chama passa...

 

A chama queima. O fumo embaça.

Tão triste que é! Mas, tem de ser...

Amor?... -- chama, e, depois, fumaça:

O fumo vem, a chama passa...

 

 

Teresópolis, 1911.

 

Os Melhores Poemas de Manuel Bandeira

(edição de Francisco de Assis Barbosa)

publicado por RAA às 02:34 | comentar | favorito
13
Jun 16
13
Jun 16

BALADA DO AMOR E DO ESPÍRITO

Que bom era exprimi-la!

Mas só posso sonhá-la...

Como era bom levá-la,

como era bom!... Tranquila!

 

Como era bom despi-la

ao poder encontrá-la!

-- Já não sorri. Não fala.

Da carne separá-la,

como era bom despi-la!

 

Acordá-la e despi-la,

do seu corpo despi-la!

mas a alma, que é sua,

que bom era levá-la!

para longe levá-la...

para bebê-la, nua.

-- Já não respira... Estua.

-- Já não responde... Cala.

 

Fernando de Paços,

in António Manuel Couto Viana (ed.), As Folhas de Poesia Távola Redonda

 

publicado por RAA às 18:46 | comentar | favorito