28
Jan 17
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Jan 17

EVOCAÇÃO DE SILVES

Saúda, por mim, Abu Bakr,

Os queridos lugares de Silves

E diz-me se deles a saudade

É tão grande quanto a minha.

Saúda o palácio dos Balcões

Da parte de quem nunca os esqueceu.

Morada de leões e de gazelas

Salas e sombras onde eu

Doce refúgio encontrava

Entre ancas opulentas

E tão estreitas cinturas!

Mulheres níveas e morenas

Atravessavam-me a alma

Como brancas espadas

E lanças escuras

Ai quantas noites fiquei,

Lá no remanso do rio,

Nos jogos do amor

Com a da pulseira curva

Igual aos meandros da água

Enquanto o tempo passava...

E me servia de vinho:

O vinho do seu olhar

Às vezes o do seu copo

E outras vezes o da boca.

Tangia cordas de alaúde

E eis que eu estremecia

Como se estivesse ouvindo

Tendões de colos cortados.

Mas retirava o seu manto

Grácil detalhe mostrando:

Era o ramo de salgueiro

Que abria o seu botão

Para ostentar a flor.

 

Al-Mu'tamid,

in Adalberto Alves, O Meu Coração É Árabe (1987)

publicado por RAA às 23:10 | comentar | favorito
16
Jan 17
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Jan 17

DA DENSIDADE E DA TRANSPARÊNCIA

Vai-se formando de tudo a densidade

mãos que apertamos olhos fulvos

que algum dia se entornaram verdes

e de tão verdes anémonas sem fundo.

 

E de tudo também a transparência

em breves segundos se insinua

como aqueles corpos que fugindo

o nosso olhar e desejo desabitam.

 

Em desafio ao sol a todas as estrelas

numa ronda de encontro e despedida

vai a roda da vida nos passando.

 

Por mais vigilantes e atentos ao acaso

algo de nós foge com a única promessa

de a luz que vemos não acabar nunca.

 

José Calrlos González, Biofonias

publicado por RAA às 00:41 | comentar | favorito (2)