LAVOISIER
Na Ana Teresa
nada se perde
tudo se queria
de todas as formas
Dick Hard,
De Boas Erecções Está o Inferno Cheio
Na Ana Teresa
nada se perde
tudo se queria
de todas as formas
Dick Hard,
De Boas Erecções Está o Inferno Cheio
Acabava ali a Terra
Nos derradeiros rochedos,
A deserta árida serra
Por entre os negros penedos
Só deixa viver mesquinho
Triste pinheiro maninho.
E os ventos despregados
Sopravam rijos na rama,
E os céus turvos, anuviados,
O mar que incessante brama
Tudo ali era braveza
De selvagem natureza.
Aí, na quebra do monte,
Entre uns juncos mal medrados,
Seco o rio, seca a fonte,
Ervas e matos queimados,
Aí nessa bruta serra,
Aí foi um Céu na Terra.
Ali sós no mundo, sós,
Santo Deus!, como vivemos!
Como éramos tudo nós
E de nada mais soubemos!
Como nos folgava a vida
De tudo o mais esquecida!
Que longos beijos sem fim,
Que falar dos olhos mudo!
Como ela vivia em mim,
Como eu tinha nela tudo,
Minha alma em sua razão,
Meu sangue em seu coração!
Os anjos aqueles dias
Contaram na eternidade:
Que essas horas fugidias,
Séculos na intensidade,
Por milénios marca Deus
Quando as dá aos que são seus.
Ai!, sim! foi a tragos largos,
Longos, fundos que a bebi
Do prazer a taça – amargos
Depois... depois os senti
Os travos que ela deixou...
Mas como eu ninguém gozou.
Ninguém: que é preciso amar
Como eu amei – ser amado
Como eu fui; dar, e tomar
Do outro ser a que se há dado,
Toda a razão, toda a vida
Que em nós se anula perdida.
Ai, ai!, que pesados anos
Tardios depois vieram!
Oh!, que fatais desenganos,
Ramo a ramo, a desfizeram
A minha choça na serra,
Lá onde de acaba a Terra!
Se o visse... não quero vê-lo
Aquele sítio encantado.
Certo estou não conhecê-lo,
Tão outro estará mudado,
Mudado como eu, como ela,
Que a vejo sem conhecê-la!
Inda ali acaba a Terra,
Mas já o céu não começa;
Que aquela visão da serra
Sumiu-se na treva espessa,
E deixou nua a bruteza
Dessa agreste natureza.
Almeida Garrett, Fiolhas Caídas (1853
Nos corredores das lojas a passear, lá em cima,
arrasta um calçado encharcado,
um saco plástico que verte.
Quando lhe tocam, sujam-se,
mais rápidos caminham fazendo um esgar doentio.
Não tardará que o homem de farda lhe indique a
saída.
José Emílio-Nelson, O Anjo Relicário (1999)