"Abandono-te todas as noites,"

Abandono-te todas as noites,

Troco-te pelos outros,

Por mim

Ou pelo simples sono que sempre me enganou

Desde criança.

 

Deixo-te ficar tantas vezes à luz duma velha lua

De queixo retorcido e rainha das bruxas

E em lugares frequentados por cães que defecam

Com o mudo amor dos donos

Sigilosamente

À trela.

 

Não devias esperar.

Este amor não é feito de sangue, a minha alma não anda nessa rua deserta,

Nem vai, pé ante pé, contemplar o teu rosto,

Deitar-se em seguida sobre o teu corpo gelado

E limpar-te os olhos do frio

De uma madrugada

Impudica.

 

Armando Silva Carvalho, O Amante Japonês (2008)

publicado por RAA às 23:24 | comentar | favorito