DOR OCULTA

Quando uma nuvem nômada destila

gotas, roçando a crista azul da serra,

umas brincam na relva; outras, tranqüilas,

serenamente entranham-se na terra.

 

E a gente fala da gotinha que erra

de folha em folha e, trêmula, cintila,

mas nem se lembra da que o solo encerra,

da que ficou no coração da argila!

 

Quanta gente que zomba do desgosto

mudo, da angústia que não molha o rosto

e que não tomba, em gotas, pelo chão,

 

havia de chorar, se adivinhasse

que há lágrimas que correm pela face

e outras que rolam pelo coração!

 

Guilherme de Almeida

publicado por RAA às 12:37 | comentar | favorito