NATAL À BEIRA-RIO

É o braço do abeto a bater na vidraça?

E o ponteiro pequeno a caminho da meta!

Cala-te, vento velho! É o Natal que passa,

a trazer-me da água a infância ressurecta.

 

Da casa onde nasci via-se perto o rio.

Tão novos os meus Pais, tão novos no passado!

E o Menino nascia a bordo de um navio

que ficava, no cais, à noite iluminado...

 

Ó noite de Natal, que travo a maresia!

Depois fui não sei quem que se perdeu na terra.

E quanto mais na terra a terra me envolvia

mais da terra fazia o norte de quem erra.

 

Vem tu, Poesia, vem agora conduzir-me

à beira desse cais onde Jesus nascia...

Serei dos que afinal, errando em terra firme,

precisam de Jesus, de Mar, ou de Poesia?

 

David Mourão-Ferreira 

publicado por RAA às 23:05 | comentar | favorito