(BOXE)

No mini-ginásio do Sport Lisboa e Amoreiras

um rapazola gritou: poesia! poesia

é o cangalho das feiras, onde sempre

chega tarde a melodia!, a camisola

lançada pró tapete com sabor a sujo.

E no entanto, o braço era perfeito;

 

o ombro um tanto oblíquo merecia

o olho pardo do freguês vizinho.

A laranja, no sumo, é sábia pena

para o desejo ou fuga que meneia

cegos copos de vidro facetado

e a bandeira do clube de permeio.

 

A rima, sim, é esse vão ouvido

com que se atiram socos à parede;

um deus, seguramente, mas aflito

de não saber coas mãos, depois,

quando era fim de noite e já ninguém sabia

o que era corpo, sangue ou poesia.

 

António Franco Alexandre

publicado por RAA às 14:58 | comentar | favorito