CANÇÃO DO LAGO SECANDO
Pela noite da minha trágica aventura,
Meu sofrimento é o achado que afago,
Se acordado, sofrendo,
E se a dormir, sonhando
Que sou lago.
Adeus, ó canas, cá me vou secando!
À míngua de nascente eu parto evaporado
Sem me ver partir!
Ainda se os que passam pudessem beber-me
Sem tornarem a passar
Pra maldizer-me...
Ainda se a menina reclinada à minha beira,
Que tanto e tanto me seduz ainda,
Viesse banhar-se
E depois se afogasse em mim, violada e linda...
Ainda se eu,
Profundo e vasto e longo,
Pudesse ter no mapa mancha azul e portos
E ser útil à navegação...
Finando-me abriria a justa e verdadeira causa
À minha sede e à minha direcção.
Políbio Gomes dos Santos