SUB ROSA

para o Herberto Helder

 

Não somos os últimos, pois se

há coisa que o mundo sempre fez bem

foi acabar. De novo e sempre: acabar.

 

Mas já não trabalhamos com o ouro

e temos um certo pudor tardio

em falar de deus, do amor ou até do corpo.

 

As metáforas arrefecem, talvez contrariadas.

São casas devolutas, mães risonhas

ou sombrias cujo grito deixámos de escutar.

 

Do lixo, porém, temos um vasto

e inútil conhecimento. Possa

ele servir de rosa triste aos

que não cantam sequer, por delicadeza.

 

Manuel de Freitas

(escolha de J. A. Oliveira, J. T. Mendonça e L. M. Queirós,

Resumo -- A Poesia em 2009

 

publicado por RAA às 13:44 | comentar | favorito