PARA QUE AFLIGIRES-TE?...
Os teus hão-de deixar-te.
-- Para que hás-de afligir-te?
O frágil ramo verde
Da tua esperança há-de
Talvez cair quebrado
Antes de dar seu fruto.
-- P'ra que hás-de afligir-te?
A noite há-de cair
Por sobre o teu caminho.
-- Acaso poderás
Fazer parar a noite? --
Dia após dia, sempre
Hás-de acender a lâmpada.
E um dia a tua lâmpada
Talvez se apague... um dia.
-- Para que incomodares-te?
Ouvindo a tua voz
Os bichos da floresta
Virão a ti... No entanto,
Talvez em tua casa
Os corações de pedra
Não possam entender-te...
-- P'ra que serve afligires-te?
Se a porta está fechada
Vais-te, deixas a casa?
Bate à porta, persiste,
Empurra-a dia a dia.
E talvez essa porta
Nunca chegue a ceder...
Mas para que afligires-te?
Poesias de Tagore
(versão de Augusto Casimiro)