CHORO DE VAGAS

Não é de águas apenas e de ventos,

no rude som, formada a voz do Oceano:

Em seu clamor -- ouço um clamor humano,

Em seus lamentos -- todos os lamentos.

 

São de náufragos mil estes acentos,

Estes gemidos, esse aiar insano;

Agarrados a um mastro, ou tábua, ou pano,

Vejo-os varridos de tufões violentos;

 

Vejo-os na escuridão da noite, aflitos,

Bracejando, ou já mortos e de bruços,

Largados das marés em ermas plagas...

 

Ah! que são deles estes surdos gritos,

Esse rumor de preces e soluços

E o choro de saudade destas vagas!

 

Alberto de Oliveira,

Poesias

inEvaristo Pontes do Santos, Antologia Portuguesa e Brasileira

(1974)

 

publicado por RAA às 13:35 | comentar | favorito