"Sou eu quem anda esta noite"
Sou eu quem anda esta noite,
pelo meu quarto, ou o mendigo
que rondava o meu jardim
ao cair da tarde?...
Fito
tudo em redor e encontro
que o mesmo é, mas distinto...
A janela estava aberta?
Eu não tinha adormecido?
O jardim não estava verde
de luar?... E o céu límpido
e azul... Há vento e nuvens
no jardim ora sombrio...
A minha barba era negra...
De claro eu estava vestido...
Minha barba agora é branca,
estou de luto. Vai comigo
meu andar? Tem esta voz
que ressoa em mim os ritmos
da voz que eu tinha?
Sou eu, ou sou o mendigo
que rondava o meu jardim
ao cair da tarde?...
Fito
em redor... Há vento e nuvens...
O jardim está sombrio...
...E vou e venho... É que eu
não havia adormecido?
A barba está branca... E tudo
é o mesmo e é distinto...
Juan Ramón Jimenez,
Antologia Poética
trad: José Bento