Se apartada do corpo a doce vida,
Domina em seu lugar a dura morte,
De que nasce tardar-me tanto a morte,
Se ausente d'alma estou, que me dá vida?
Não quero sem Silvano já ter vida,
Pois tudo sem Silvano é viva morte;
Já que se foi Silvano venha a morte,
Perca-se por Silvano a minha vida.
Ah! Suspirado ausente, se esta morte
Não te obriga a querer vir dar-me vida,
Como não me vem dar a mesma morte?
Mas se n'alma consiste a própria vida,
Bem sei que se me tarda tanto a morte
Que é porque sinta a morte de tal vida.
Anónima (Século XVII)