A UM ROUXINOL CANTANDO
Ramalhete animado, flor do vento,
Que alegremente teus ciúmes choras
Tu, cantando teu mal, teu mal melhoras,
Eu, chorando meu mal, meu mal aumento.
Eu digo minha dor ao sofrimento,
Tu cantas teu pesar a quem namoras,
Tu esperas o bem todas [as] horas,
Eu temo qualquer mal todo o momento.
Ambos agora estamos padecendo
Por decreto cruel do deos minino;
Mas eu padeço mais só porque entendo.
Que é tão duro e cruel o meu destino,
Que tu choras o mal que estás sofrendo,
Eu choro o mal que sofro e que imagino.
Francisco de Vasconcelos
in Maria Ema Tarracha Ferreira,
Antologia Literária Comentada --
Época Clássica -- Século XVII