A UM ROUXINOL CANTANDO

Ramalhete animado, flor do vento,

Que alegremente teus ciúmes choras

Tu, cantando teu mal, teu mal melhoras,

Eu, chorando meu mal, meu mal aumento.

 

Eu digo minha dor ao sofrimento,

Tu cantas teu pesar a quem namoras,

Tu esperas o bem todas [as] horas,

Eu temo qualquer mal todo o momento.

 

Ambos agora estamos padecendo

Por decreto cruel do deos minino;

Mas eu padeço mais só porque entendo.

 

Que é tão duro e cruel o meu destino,

Que tu choras o mal que estás sofrendo,

Eu choro o mal que sofro e que imagino.

 

Francisco de Vasconcelos

in Maria Ema Tarracha Ferreira,

Antologia Literária Comentada --

Época Clássica -- Século XVII

publicado por RAA às 19:59 | comentar | favorito