AOS CABELOS DE INÊS
Vejo-os tão vivos como a luz do dia,
Os cabelos de Inês, delgado oiro
Do amado tesoiro loiro
Que sob os grandes beijos refulgia.
Raios de fina luz, adormeceram
Com saudades dos beijos que lhe deram
Os beilos do seu grande Namorado;
Raios de fina luz, adormeceram
No silêncio do túmulo dormente,
E com seu vivo lume resplendente
Todo por dentro o hão iluminado...
Adormeceram no silêncio fundo
Onde faziam luar;
E cuidavam apenas cordar
Para o antigo amor -- no fundo do mundo !
Mas vieram à luz do claro dia,
Dorido oiro
Do tesoiro loiro
E resplendente
Que sob os grandes beijos refulgia
Da boca amorosa e ansiosa
E saudosa, eternamente!
Oiro tão loiro e tão doce,
De Amada, Santa e Rainha...
-- Não serão os de Iseu, que uma andorinha
Por maravilha no biquinho trouxe?
Afosno Lopes Vieira, Ilhas de Bruma (1917) /
Líricas Portuguesas 2.ª série (ed. de Cabral do Nascimento)