AS MÃOS

Componho com as linhas dos meus dedos outros puros

cujas pontas façam girar nenhum raio sucessivo

de sol Dedos sem o cadastro de enlaces doendo

e se declamo ficções que eles escorem

Sem par noutras mãos Nem fundos na algibeira

mexidamente obscenos e a salvo da garra dos gatilhos

Dedos com um horizonte de pálpebra baixando

que assim não acordem as formas tacteadas

donde um sono mane estrie os paços vedados

Dedos de que mesmo a chuva escorra sem uma lágrima

Ou os que já compus e assinam e adiam o poema.

 

Sebastião Alba, A Noite Dividida (1996)

publicado por RAA às 18:44 | comentar | favorito