JOSEFINA BAKER

De qualquer ilha escondida

no quente mar colorista,

veio essa Baker trazida

pla mão da 5.ª avenida:

o roteiro fantasista.

 

Essa negra Josefina

deixou Colombo vexado,

ligando a terra-menina,

que é branca e greco-latina,

ao continente sobrado...

 

Um demónio de negrura:

trópico aroma se exala.

Seu corpo a imagem figura

de um brônzeo clima, em tontura,

cercando à noite a senzala.

 

O ritmo antigo é perdido,

outro mundo volverá.

Nesta Europa sem sentido

a Baker marca o ruído

e o mediano o Dekobra.

 

Façam batuque, batuque,

plantem na Europa o Haiti.

Caliça que a alma amachuque,

que caia o tecto de estuque

no senhor de Valéry.

 

Velha casa brazonada,

deu-lhe o vento de ruína.

A celta flor desfolhada,

morreu de tédio pisada

aos pés dessa Josefina.

 

Luís de Montalvor,

presença # 19,

Março 1929

publicado por RAA às 13:30 | comentar | favorito