NÃO É PARA MIM

a J. B.

 

Subi todos os degraus

que o ar constrói

nas palmas das mãos dos homens.

 

Vesti as roupas ásperas

que o vento enrola

no corpo de todos os homens,

e senti os seus dedos arenosos

despertarem-me, persuasivos,

para uma vida livre e errante.

 

Vivi na praia

o eterno namoro do mar,

a sua poesia arrebatada,

a sua música quente e apaixonada.

 

Mas a música

a poesia,

a vida livre e errante,

as imagens

são uma verdade longínqua

que não é sossego

nem para o meu espírito

nem para a minha carne...

 

João Vário, Horas sem Carne (1958) /

in Manuel Ferreira, No Reino de Caliban I

publicado por RAA às 13:32 | comentar | favorito