NO COMBOIO DESCENDENTE
No comboio descendente
Vinha tudo à gargalhada,
Uns por verem rir os outros
E os outros sem ser por nada
No comboio descendente
De Queluz à Cruz Quebrada...
No comboio descendente
Vinham todos à janela,
Uns calados para os outros
E os outros a dar-lhes trela
No comboio descendente
De Cruz Quebrada a Palmela...
No comboio descedente
Mas que grande reinação!
Uns dormindo, outros com sono,
E os outros nem sim nem não
No comboio descendente
De Palmela a Portimão...
Fernando Pessoa,
in Poetas de Hoje e de Ontem
-- do Século XIII ao XXI
para os mais novos
(edição: Maria de Lourdes Varanda
& Maria Manuela Santos)