"O boi morreu naquela madrugada de Abril."

O boi morreu naquela madrugada de Abril.

António adormecera a seu lado, caído de sono nas palhas.

Quando acordou, a candeia velava ainda e o boi-amigo morto.

Morto. Bezerrinho, custara sete notas na feira de Ancião.

Cacilda chorou silenciosamente; os filhos acariciaram o lombo,

trémulos de medo e espanto.

Abril e a terra por lavrar.

Abril e daí a meses o milho sem o dorso rijo do boi a caminho da eira.

O pasto apodrecendo no monte.

As oliveiras por amanhar.

Abril, madrugada, e o boi-amigo morto.

Deus nos perdoe: Antes se fosse gente.

 

Fernando Namora, Terra

publicado por RAA às 18:54 | comentar | favorito