BLUE MOON
Noite, tão de negrume, ora estrela,
riscada em prata, por lunar somente
e, ora calada, quão por entre nuvem,
dor que invade o vulto desse vento...
Fillinto Elísio, Zen Limites (2016)
Noite, tão de negrume, ora estrela,
riscada em prata, por lunar somente
e, ora calada, quão por entre nuvem,
dor que invade o vulto desse vento...
Fillinto Elísio, Zen Limites (2016)
Nas horas paradas, indecisas
em que os olhos olham
a mesma cor no mundo
e, um ténue claridade se suspende
no céu, entre o Sol e as estrelas...
no compasso de espera,
ainda dia e não sei se noite,
é que acorda o nosso coração.
E tange
a mesma canção amarga,
que vem das árvores,
dos pássaros, da gente
e onde a síncope da noite
colhe um a um todos os gestos.
Deixou de brilhar a água
translúcida do lago.
A árvore sustém na copa de sombra
os ramos que apenas sabem que vacilam.
Os pássaros são pios
gravados na memória
e em redor.
Percebem-se ainda os passos
da mulher que desce a rua.
O resto, é um traço vago
desenhado em reflexos baços
na penumbra.
Tudo se retrai e assusta
como num princípio de Vida.
Somos crianças e vamos
levadas por um destino comum
de sombras informes.
Mistério que somos
de nada e além
em agigantadas perspectivas de Morte
confundindo-se no mármore frio
de místicos temores...
...E a Vida continua.
Serena se levanta
do fundo da memória
nos ramos que se agitam,
nos pássaros que voam.
E balbucia e traça e canta
a mensagem futura
para embalar o dia que vem
na aurora distante.
Alexandre Dáskalos, Poesia (1961)
(F.G.L.)
Noite aberta.
A lua
tropeça nos juncos.
Que procura a lua?
raiz do sangue?
Um rio onde durma?
A voz delirando
no olival, exangue?
Sonâmbulo,
que procura a lua?
O rosto de cal
que no rio flutua?
Eugénio de Andrade, Primeiros Poemas
Como estrela cadente
como pedra rolando
na corrente
como lua caindo por detrás das dunas
como revérbero nas águas como reflexo
como um foco na noite
como um cigarro uma lanterna um astro
como escamas luzindo no canal
como o resto de um rasto
como um sinal: mada mais do que um sinal
uma luz a acender e a apagar.
Ou eu
a pescar.
Lisboa, 26.12.96
Manuel Alegre, Senhora das Tempestades (1998)
Noite,
noite velha
nos caminhos.
A lua no alto
fingindo-se cega.
Estrelas. Algumas
caíram ao rio.
As rãs
e as águas
estremecem de frio.
Eugénio de Andrade, Primeiros Poemas
Fui à beira do mar
Ver o que lá havia
Ouvi alguém cantar
Que ao longe me dizia
Ó cantador alrgre
Que é da tua alegria
Tens tanto para andar
E a noite está tão fria
Desde então a arfar
No meu peito a Alegria
Ouço alguém a bradar
Aproveita que é dia
Detei-me a descansar
Enquanto amanhecia
Entre o céu e o mar
Uma proa rompia
Desde então a bater
No meu peito em segredo
Sinto uma voz dizer
Teima, teima sem medo
José Afonso
Noite no templo
do alto da montanha.
Posso levantar a mão,
acariciar as estrelas,
mas não ouso falar
em voz alta.
Receio assustar
os habitantes do céu.
Poemas de Li Bai
(versão de António Graça de Abreu)
A Saudade vem bater,
Vem bater à minha porta,
Quando o luar é de lágrimas
E a terra parece morta.
E a saudade bate, bate,
Com tal carinho e brandura,
Que nem a aurora batendo
À porta da noite escura!
Mas eu ouço-te, Saudade...
E o silêncio é tão profundo!
Ouço vozes, choros de alma,
Que ninguém ouve, no mundo!
Misteriosas imagens
Passam, por mim, a falar...
Bem entendo o que elas dizem,
Bem o quisera contar!
Mas -- que tragédia! -- emudeço.
Caio, de mim, sobre o nada!
Sou a minha própria sombra
Não sei onde projectada!
E entra a Saudade... Fiquei
Como assombrado e sem voz!
Sinto-a melhor, que senti-la
É vê-la, dentro de nós.
Vinha com ela a tristeza
Que a tarde espalha no ar...
Vinha cercada das sombras
Que andam, na terra, ao luar.
E vinha a sombra dos Ermos,
Com os olhos rasos de água...
E os segredos que a noitinha
Vem dizer à nossa mágoa.
Vinha a sombra do Marão
Sob a lua em várias fases;
E, no seu rosto de bronze,
Trazia um véu de lilases.
Vinha a alma do Desejo,
Toda a arder... Em volta dela,
Giram mundos e fantasmas,
Como em volta duma estrela.
Tudo o que é sonho em vigília
No sono da Criação;
E, entre falsas aparências,
É divina Aparição;
Tudo vem com a Saudade,
De noite, bater-me à porta,
Quando o luar é de lágrimas
E a terra parece morta...
Teixeira de Pascoais,
Terra Proibida / Antologia Poética
(edição de Ilídio Sardoeira)
Vem do Marão, alta serra,
O luar da minha terra.
Ora vem a lua nova,
Que é um perfil
De donzela falecida...
Nas claras noites de Abril,
Em névoa de alma surgida,
Anda a errar
E a suspirar,
Em volta da sua cova...
Ora vem a Lua cheia...
Rosto enorme
E luminoso,
Num sorriso misterioso,
Por sobre a aldeia
Que dorme...
Vem do Marão, alta serra,
O luar da minha terra.
Teixeira de Pascoais,
Terra Proibida (1899) / Antologia Poética
(edição de Ilídio Sardoeira, 1977)
Se voltares o rosto
(devagar)
alumias as folhas nuas
da noite.
Fernando Jorge Fabião,
Na Orla da Tinta