Não é tempo de deixar que as coisas corram?
Abandono o caderno de rascunho,
saio do quarto onde escrevo à máquina.
As asas dos abelhões rodopiam
livres do delicado tecido das palavras:
o regato faz cintilar
uma folha que cai da cama, sombra confusa
caindo com ela, sem qualquer
ajuda da minha parte: as coisas entregues a si próprias
desfazem-se? Está a libertação já
escrita nos movimentos da coerência?
Imitaram as palavras desde o início
o trabalho que é melhor feito quando está por fazer?
Há quem pense sem crueldade despertar de novo;
há quem abrande a dura atenção
ao ver o orvalho secar, o esquilo erguer-se
(erecto, o cão da pradaria de ventre branco)
o efémero insecto colar-se todo o dia à rede da porta.
A. R. Ammons
(versão de Maria de Lourdes Guimarães)
Limiar #4, Porto, 1994