17
Mar 14

"Não desesperes"

Não desesperes, hás-de ser califa

Pois não saiu a Ibn Amr na rifa

Chegar a chefe alfandegário?

Oh, que tempo este torpe e vário

Que em altos posto colocar soe

Quem mais que limpa-esgotos nunca foi.

 

'Abd Allah Ibn Wazir,

in Adalberto Alves,

O Meu Coração É Árabe  (1987)

 

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15
Jan 14

"Não desprezes tuas vestes"

Não desprezes tuas vestes

Só porque elas estão usadas:

É por causa do teu corpo

Que se encontram assim conspurcadas.

 

Al-Mirtuli

in Adalberto Alves,

O Meu Coração É Árabe --

A Poesia Luso-Árabe (1987)

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14
Jan 14

"Aquele homem desejou-me longa vida"

Aquele homem desejou-me longa vida…

De que serve ao prisioneiro vida prolongada?

Não é a morte melhor p’ra quem padece

E sente sem fim a vida atormentada?

E se outros esperam descobrir o amor

Meu único fito é encontrar a morte…

Deverei viver p’ras minhas filhas ver

Rotas, famintas, no vaivém da sorte?

Serviçais daqueles cuja maior missão

Seria, tão-somente, anunciar-me

Afastar gente que me embaraçasse

Ou cavalgar, para, preparar-me

Tropas alinhadas, quando o pendão se levantasse,

Exausto de correr à frente e atrás

Se a desordem na fila se mostrasse?

O voto que alguém sinceramente faz

É feito p’ra valer, se de alma pura:

Possa aquele homem bom ser premiado

Que a vida lhe dê maior doçura.

Minh’alma achou conforto no que lhe foi dado

E na certeza de que nada dura.

 

 

 Al-Mu'tamid

Adalberto Alves, O Meu Coração É Árabe – A Poesia Luso-Árabe (1987)

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10
Jan 14

"Solta a alegria! Que fique desatada!"

Solta a alegria! Que fique desatada!

Esquece a ânsia que rói o coração.

Tanta doença foi assim curada!

A vida é uma presa, vai-te a ela!

Pois é bem curta a sua duração.

 

E mesmo que a tua vida acaso fosse

De mil anos plenos já composta

Mal se poderia dizer que fora longa.

 

Que seres triste não seja a tua aposta

Pois que o alaúde e fresco vinho

Te aguardam na beira do caminho.

 

Que os cuidados não sejam de ti donos

Se a taça for espada brilhante em tua mão.

Da sabedoria só colherás a turbação

Cravada no mais fundo do teu ser.

É que dentre todos, o mais sábio

É aquele que não cuida de saber.

 

Al-Mu'tamid

in Adalberto Alves, O Meu Coração É Árabe (1987)

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04
Nov 13

"Quem eu louvo tem a timidez"

Quem eu louvo tem a timidez

Que é própria de alto nascimento

Baixa os olhos diante dos humildes

Mas diante dos nobres faz sustento.

 

O seu mérito é água das minas

Que pronto torna verdes as colinas.

A sua equidade é como o fulgor

De estrelas no horizonte espalhando cor.

 

Graças a ti meus sonhos se cumpriram

Um a um no campo do desejo.

Que a tua vida possa ser bem longa

É o meu voto e tudo quanto almejo.

 

Ibn Al-Wakil

inAdalberto Alves,

O Meu Coração É Árabe (1987)

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22
Jul 13

"Nunca fites quem encanto tem"

Nunca fites quem encanto tem

Foge depressa de um tal olhar:

Quanta desgraça do destino vem

Ao que o amor não sabe evitar.

 

Ibn at-Talla,

in Adalberto Alves, O Meu Coração É Árabe

-- A Poesia Luso-Árabe

 

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20
Fev 13

...

Vive para sempre o homem de saber

Ainda quando, após a morte,

Na terra em pó seu corpo se volver...

O néscio, esse, é sempre um morto

Que mesmo se segue caminhando

Muito embora aparentando vida

Não é senão um corpo vegetando.

 

Ibn As-Sid

(in Adalberto Alves, O Meu Coração É Árabe)

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19
Out 12

"Ah, a noite que eu, sem fim, passei..."

Ah, a noite que eu, sem fim, passei...

O Tempo alargava a sua duração

E dava-lhe o cerne do que na vida amei.

Comentaram alguns, pela noite fora,

Como se ia escoando a sua mansidão.

Mas a noite somente consentia a aurora...

 

Das nuvens tão denso era o breu

Que já não se sabia o que era Terra ou Céu.

Ao longe o raio entre trevas se escondia:

Era um negro que entre lágrimas sorria.

 

Brandi alto o sabre da minha vontade

E tingi o manto dessa mesma aurora

Ao ferir o colo da escuridade

Com o sangue da noite, pela noite fora.

 

Ibn Sara

(Adalberto Alves)

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23
Jul 12

"És tão lesto a escutar"

És tão lesto a escutar

Quem para as festas te convida...

Não vês cãs a segredar

Que a morte te leva a vida?

 

Deu-te Deus sabedoria,

Porque ignoras do Destino

Cego e surdo como um muro?

És e foste, isso é o Futuro.

 

Das esferas a harmonia

Findará em desatino:

Morrerão o Sol e a Lua

E a própria terra que é tua.

 

E na choça da carência

Ou na mansão da cidade

Todos perdem na verdade

Sua fugaz existência.

 

Ibn Sara

 

(Adalberto Alves)

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23
Mai 12

"Cai a noite."

Cai a noite.

     Sob o manto da sombra

     O braseiro é um bálsamo

     Que sara o aguilhoar

     Dos escorpiões do frio.

     Ardente, talhou as mantas,

     O nosso cálido abrigo

     Onde frio se não consente.

 

O incêndio na lareira

(Nós olhando fascinados

E a grande taça de vinho

Que vai passando em redor)

Mal nos permite a intimidade

E logo nos afasta.

 

É uma mãe,

     Que umas vezes nos amamenta

     E outra nos retira o peito.

 

Ibn Sara

(Adalberto Alves)

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