14
Abr 11

A LÁGRIMA DE VAN GOGH

o ar da tarde reflete
as flores do arco-íris

mudas, as cores giram
lisérgica dança de Shiva
sobre o campo de girassóis

centeio embolorado
: auto-retrato da Loucura
nas pupilas em chamas

& uma única lágrima
guardada
na caixinha de jóias

Ademir Assunção
publicado por RAA às 14:16 | comentar | favorito
04
Abr 11

OLHOS ELÉTRICOS

ponta de pedra aguda
faces rasgadas, bétulas amargas

você me diz psiu, violência
no jeito de piscar as pálpebras

pássaros tristes entre cães aprisionados
enfim vivemos num cenário

onde crianças com olhos elétricos
vasculham os bolsos de lady solidão

musas sádicas me acariciam
com unhas de gilete

lábios em carne-viva, mil beijos
de medusa -- strippers que após a roupa
arrancam a própria pele

e você vira as costas, arrasta-se
como um mamute pelo corredor

arremessando um "boa noite"
que me acerta em cheio na testa

Ademir Assunção
publicado por RAA às 11:21 | comentar | favorito
24
Mar 11

GIRASSÓIS EM CHAMAS

dorso de touro, tigre
listas camufladas:

um salto súbito e o sangue jorra
vinho na relva, patas em convulsão

carcaça, deserto
chifres contra o fundo

de uma moldura árida

mas a brisa, mesmo seca,
sibila algo, escute:

ali se travou uma batalha.

pior a serpente
com seu veneno diário

gota a gota, amortecendo

a fúria, a força
o roçar de pétalas

até que reste só
o girassol em chamas

no fundo do quintal

Ademir Assunção
publicado por RAA às 17:48 | comentar | favorito
16
Mar 11

5 DIAS PARA MORRER

                                                                       para hector babenco

morreremos loucos, Ana

os sapatos
novos
em cima da mala
-- mala notte
o dia, a pior
foto: olhos úmidos
no vídeo
flashbacks:
a virilha imunda
do marinheiro
os eletrodos frios
nas têmporas
as pílulas coloridas
peixes
num aquário
cujo vidro
quase se quebra
toda vez
que o tocamos

sim, Ana
morreremos loucos
mas
esta noite
dormiremos
juntos

Ademir Assunção
publicado por RAA às 14:24 | comentar | favorito
09
Mar 11

OS LEÕES ESTÃO BRINCANDO NO JARDIM

Dentes gelados, unhas à mostra

o leão arranha levemente

a pele de puro gesso: estátua branca

Peônias farfalham mudas

ante a imaginação selvagem e furiosa

vento vento vento

na tarde de abismos, constelações

de leões, centauros prontos para o bote,

o amor perigoso, atado ao tudo

ou nada: um par de olhos diante

de sua máscara de oxigênio

Ademir Assunção 
publicado por RAA às 14:19 | comentar | favorito