Aquele homem desejou-me longa vida…
De que serve ao prisioneiro vida prolongada?
Não é a morte melhor p’ra quem padece
E sente sem fim a vida atormentada?
E se outros esperam descobrir o amor
Meu único fito é encontrar a morte…
Deverei viver p’ras minhas filhas ver
Rotas, famintas, no vaivém da sorte?
Serviçais daqueles cuja maior missão
Seria, tão-somente, anunciar-me
Afastar gente que me embaraçasse
Ou cavalgar, para, preparar-me
Tropas alinhadas, quando o pendão se levantasse,
Exausto de correr à frente e atrás
Se a desordem na fila se mostrasse?
O voto que alguém sinceramente faz
É feito p’ra valer, se de alma pura:
Possa aquele homem bom ser premiado
Que a vida lhe dê maior doçura.
Minh’alma achou conforto no que lhe foi dado
E na certeza de que nada dura.
Al-Mu'tamid
Adalberto Alves, O Meu Coração É Árabe – A Poesia Luso-Árabe (1987)