26
Nov 12

VERSOS QUE EU FAÇO

Escrevo, muita vez, molhando a pena

no amargo fel da minha própria dor,

versos gritantes em que ponho em cena

fantasmas de ilusões, versos sem cor.

 

De rubro e negro, pela dor absortos,

como notas vibrantes de clarim,

finda a batalha, abençoando os mortos,

são os versos que eu faço para mim.

 

Mas outros há, rebeldes como potros,

onde a graça anda imersa, estua e ri,

feitos prò mundo rir, neles, dos outros,

quando, afinal, neles se ri de si.

 

Outros, que mal escrevo e andam dispersos

na voz-cristal das moças do lugar,

incontestavelmente os melhores versos

que faço, porque neles sei pintar

verdes de esperança, azuis de céu da calma

que dentro em nós sorri,

rubros de coração, vermelhos de alma,

esses que mal escrevo e andam dispersos

na voz-cristal do povo,

                                        são os versos

que eu faço para Ti!

 

                                                                                                                                                                                                      Outubro de 1937

 

                                                                                                                                                                                                                 Álvaro Feijó

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13
Jul 12

MARIA MADALENA

I

 

VIVENDO

 

Túnica branca a roçagar, silente,

as formas gráceis do corpo leve,

desnudo o colo dum alvor de neve,

cristal o olhar tão luminoso e ardente;

 

Figura esbelta, fugidia e breve,

prendendo ao corpo dela o olhar da gente,

cedendo Amor, pedindo Amor crescente,

desnudo o colo dum alvor de neve.

 

Vivendo a lei da Vida, como a Terra

que ama a semente e no seu ventre a encerra,

a alimenta, a agasalha e a reproduz,

 

Lábioos sorrindo sem esgares de pena,

Deusa de Amor -- Maria Madalena

passa e, empós dela, só há rastros de luz.

 

Álvaro Feijó

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17
Mar 12

Novo Cancioneiro

título: Novo Cancioneiro
prefácio, organização e notas: Alexandre Pinheiro Torres
edição integral: Terra, de Fernando Namora; Poemas, de Mário Dionísio; Sol de Agosto, de João José Cochofel; Aviso à Navegação, de Joaquim Namorado; Os Poemas de Álvaro Feijó; Planície, de Manuel da Fonseca; Turismo, de Carlos de Oliveira; Passagem de Nível, de Sidónio Muralha; Ilha de Nome Santo, de Francisco José Tenreiro; Voz que Escuta, de Políbio Gomes dos Santos.
edição: Editorial caminho
local: Lisboa
ano: 1989 
págs.: 413
dimensões: 24x17,5x2,2 cm. (brochado)
impressão: Gráfica da Venda Seca
capa: Mário Caeiro sobre ilustração de Carlos Marques
tiragem: 3000
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