15
Mai 11

...

Amor   é fogo que arde e se vê
        em ti
        em mim
        em tudo o que consome
Cegos
        surdos
               apenas te sabemos
            apenas te queremos
                          fatal fome

Ana Hatherly
publicado por RAA às 23:58 | comentar | favorito
28
Abr 11

...

Quem
me concede
os anjos
que as nuvens imitam?

Oiço vozes
mas é inútil

Cada pancada do meu coração
não repercute
no vosso
            alado
                    lado

O meu grito
não penetra a noite

e só encontra
o eco
          de nenhum
                           desejo

Ana Hatherly
publicado por RAA às 21:07 | comentar | favorito
10
Abr 11

O PAVÃO NEGRO

I

O pavão negro da escrita
abre um leque de opções
exibe o luxo
do seu traje-cárcere

Babel silente
no vazio da página
prende o tumulto da voz
fixa o assalto da mão

Última instância rebelde
é jogo
          luta
               luto
                     grito calado

Ana Hatherly
publicado por RAA às 18:46 | comentar | favorito
29
Mar 11

O JOGO É UM ITINERÁRIO

Na minha oficina herética
o labirinto contraria o linear:
percorre-me
como se fosse uma veia
segura em seus meandros

A não-necessidade, o que seria?
que nova desordem criaria?
que outras descobertas?

A fugaz eternidade das ideias-mestras
incessante refaz os jogos da racionalidade
mas o jogo é um itinerário
e a sedução do rigor
recoloca-nos incessante na senda do desejo

Ana Hatherly
publicado por RAA às 22:58 | comentar | favorito
19
Mar 11

A ESCRITALIDADE

A idade da escrita é a minha idade:
a idade que passa
a idade percurso
            o percurso recurso

Não tenho outro recurso

A idade da escrita é a idade muda:
a idade que olha
            que fala para ver
            que olha para saber

Não escrevo para dizer:
               escrevo para dizer o que não pode ser dito

Ana Hatherly
publicado por RAA às 23:58 | comentar | favorito
12
Mar 11

...

A criança passeia pelo campo. Pára diante de um portão entreaberto. É o portão de uma grande quinta. A criança entra. Lá dentro está um cão enorme.

Ana Hatherly
publicado por RAA às 01:55 | comentar | favorito
24
Set 10

CATIVO O OUVIDO VEM

Cativo o ouvido vem
buscando a união
no exílio do inteligível.

Bruscamente
eis a separação conquistada
o acontecer exacto
de pensar o não pensar
que o apetite do divino
trabalha
amplo e profundo.

O pensamento cria
e ultrapassa
o seu próprio abismo
e o desejo de ouvir
inventa
surdamente
a sua própria melodia.

Ana Hatherly
publicado por RAA às 23:43 | comentar | favorito
23
Set 10

...

Ela vem
quando eu cerro as pálpebras pesadas
e apoio a cabeça na escuridão do desejado sono
Vem muito branca muito lenta
Fita-me calada
e muito direita
começa desatando seus cabelos negros
Abre a boca num riso que eu não oiço
deixa cair o seu vestido todo
E enquanto eu olho fascinada o seu ventre coroado de negro
seis homens pequeninos e muito encarquilhados
agarram suas seis tetas
e sugam-lhe os bicos
rosados e rijos de prazer

Ana Hatherly
publicado por RAA às 15:41 | comentar | favorito