20
Jun 13

À MEMÓRIA DE MEU IRMÃO JOAQUIM

«Escrever é vencer a Morte!»

Poemas Imperfeitos

 

Foi no Dia da Raça que morreste!

Mas não morreste, não: subiste aos Céus,

Onde o teu coração nas mãos de Deus,

Como um fruto de amor tu ofereceste.

 

E Deus sorriu, ao ver-te sem os véus

Das terrenas vaidades, e tiveste,

Lá no fulgor da Jerusalém Celeste,

A acolher-te na Luz, todos os teus.

 

Os teus já partiram, porque a nós,

Os que somos ainda aqui dispersos,

Quiseste um bem deixar que nos conforte:

 

Teu vulto de saudade, a tua voz,

Que fala nos teus livros e em teus versos,

Porque é escrevendo que se vence a Morte!

 

10 de Junho de 1979

 

Anrique Paço d'Arcos

 

in Joaquim Paço d'Arcos, Correspondência

e Textos Dispersos (1942-1979)

(edição de João Filipe e Maria do Carmo Paço d'Arcos)

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15
Fev 11

SAUDADE MINHA

Minha saudade as cousas transfigura
Num estranho delírio semelhante
Ao desse eterno cavaleiro-andante
Paladino do sonho e da loucura:

Minha saudade é fonte que murmura
E em seu cantar humilde e marulhante
Mata a sede que abrasa o caminhante
Só de o embalar na líquida ternura...

Minha saudade os mundos alumia,
Os mortos ressuscita e é um sol-nascente
Doirando ainda as trevas da agonia;

Minha saudade é a força misteriosa
Que torna cada cousa em mim presente
E a minha dor presente em cada cousa.

Anrique Paço d'Arcos
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