20
Set 13

A UM PEITO CRUEL

O bem passado que é? É mal presente.

O mal presente que é? É dor esquiva.

A dor esquiva que é? É morte viva.

A morte viva que é? É inferno ardente.

 

Com mal quem poderá viver contente,

Com dor quem haverá que alegre viva,

Com morte quem não tem pena excessiva,

Com inferno quem vive alegremente?

 

Por bem passado, mal vou padecendo,

Por alegria, dor, por vida, morte,

Por glória o mesmo inferno estou sofrendo.

 

Mas ah, peito cruel, que inda é mais forte

A dura condição que em ti estou vendo,

Que bem, que mal, que dor, que inferno ou morte.

 

António Barbosa Bacelar,

in Maria Ema Tarracha Ferreira,

Antologia Literária Comentada

Época Clássica - Século XVIII

publicado por RAA às 18:42 | comentar | favorito
05
Jul 13

A VARIEDADE DO MUNDO

Este nasce, outro morre, acolá soa

Um ribeiro que corre, aqui suave,

Um rouxinol se queixa brando e grave,

Um leão c'o rugido o monte atroa.

 

Aqui corre uma fera, acolá voa

C'o grãozinho na boca ao ninho, ua ave,

Um derruba o edifício, outro ergue a trave,

Um caça, outro pesca, outro enferoa.

 

Um nas armas se alista, outro as pendura

Ao soberbo Ministro aquele adora,

Outro segue do Paço a sombra amada.

 

Este muda de amor, aquele atura.

Do bem, de que um se alegra, o outro chora...

Oh Mundo, oh sombra, oh zombaria, oh nada!

 

António Barbosa Bacelar,

in Maria Ema Tarracha Ferreira,

Antologia Literária Comentada

-- Época Clássica - Século XVII

publicado por RAA às 22:28 | comentar | favorito