26
Nov 13

A CAÇA

Vive longe, para além das muralhas da cidade.

       Suas mãos jamais seguraram um livro,

sabe apenas caçar, é ágil e valente.

       Monta um possante cavalo das estepes

e, no Outono, parte orgulhoso à desfilada,

       seu chicote dourado roça a neve, estala no ar,

ele grita ao falcão e parte à aventura.

       Seu arco, uma meia-lua, jamais falha o alvo,

abate dois grous com una só flecha.

       Quem o vê circundar o lago, afasta-se receoso,

sua reputação inspira temor nos confins do deserto.

       Para quê envelhecer entre os livros da biblioteca?

Os letrados não valem o bravo nómada da planície.

 

Poemas de Li Bai

(versão de António Graça de Abreu)

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23
Out 13

VISITA EM VÃO A UM MONGE TAUISTA NA MONTANHA DAITIAN

Cães ladrando

       entre o murmúrio das águas.

Flores de pessegueiro carregando

       pesadas gotas de chuva.

Veados saltando

       no fundo da floresta.

Bambus selvagens perfurando

       a névoa gris.

Cascatas voando

       suspensas de cumes verdejantes.

Meio-dia, não se ouvem sinos.

       Ninguém sabe onde encontrar o velho mestre.

Triste, procuro apoio

       em dois ou três pinheiros.

 

Li Bai / António Graça de Abreu

Poemas de Li Bai

publicado por RAA às 13:53 | comentar | favorito
19
Jun 13

O PESCADOR

A terra bebeu a neve

       e, de novo, desabrocham

as flores de pessegueiro.

       O lago é prata derretida

e são ouro recente

       as folhas do salgueiro.

Sobre as flores

       borboletas empoadas

descansam suas cabeças de veludo.

       Quebra-se a superfície do lago

quando, do barco parado,

       o pescador lança as redes.

Seu pensamento está com a mulher amada.

       Ele regressa ao lar,

tal como a andorinha

       leva comida ao seu par.

 

Poemas de Li Bai

(trad. António Graça de Abreu)

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03
Jun 13

MADRUGADA

Os campos frios embebendo-se em chuva recente,

        as cores da Primavera espalhando-se por toda a parte,

os peixes saltitando no grande lago azul,

        os tordos cantando nos pesados galhos verdes,

o pólen das flores salpicando-se de gotas de chuva,

        a erva dos montes arqueando-se por igual, na cintura,

no rio, entre bambus, restos de névoa

        afastando-se, levemente dispersos pela brisa.

 

Poemas de Li Bai

(trad. António Graça de Abreu)

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12
Ago 12

A UM PIRILAMPO

A chuva não apaga o teu fulgor,

        o vento aumenta o teu ardor.

Porque não voas para o céu distante

        e és, ao luar, um estrela cintilante?

 

Li Bai

(António Graça de Abreu) 

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