12
Set 11

PAZ (2)

Avaro de meus sonhos te invoquei,
Nascesses para mim e eras cumprida.
Ilha sem arquipélago julguei
Dividida dos outros minha vida.

Mas que voz de mim vem e te reclama,
Filha de reis dum reino que inda existe?!
Porque funde ao calor da tua chama
O inútil silêncio que resiste?

Nunca te deste toda a quem te quis
Para si, receber o que feliz
Só na comum seara se renova.

Tudo o que vem de ti é largo e vário,
Mas não sorri ao homem solitário
Que te busca sozinho em sua cova.

Arnaldo França
publicado por RAA às 12:39 | comentar | favorito
24
Ago 11

PAZ (1)

Pedrinhas que o mar trouxe à areia branca,
Algas ao tanque verde a cor do rio,
Minha alma se desprende em luz, sombrio
O corpo sem entrada à porta franca.

Meus sonhos quem os fez nascer tranquilos,
Serenos? Não seria a hora incerta
Que o coração ouvisse a voz desperta
E deles não seria mais que ouvi-los.

Ó sugestão marítima perdida,
De algas e rios e o mais que à vida
Deve meu ser tornado em marinheiro,

Acorda em mim de novo a voz distante
De horizontes sem fim e a cada instante
Traz-me a paz tão roubada ao mundo inteiro.

Arnaldo França
publicado por RAA às 14:21 | comentar | favorito
02
Set 10

DOIS POEMAS DO MAR

Partir,
deixar a ilha tão pequena
que o vento nómada
bafeja
e as ondas do mar
rodeiam.

Fugir,
buscar terras mais ao longe
onde a alma errante
caminhe.

Partir,
deixar na terra o canto duma morna
que o emigrante
recorde.

Fugir,
deixar no mar o sulco branco
da hélice do vapor,
que as vagas mansas
apaguem...

Nos olhos a saudade retratada
da distância percorrida.

Noites de vigília
sonhando com a distância longínqua
o caminho por andar.

(Minha estrada de vagas verdes,
cintilação de salitre nas faces,
canção de ondas no costado.)

Só nos olhos
(saudade estranha)
a distância percorrida,
-- por percorrer.

Arnaldo França
publicado por RAA às 11:05 | comentar | favorito