04
Dez 10

Obra Poética I

autor: Artur do Cruzeiro Seixas
título: Obra Poética -- vol. I
organização e prefácio: Isabel Meyrelles
colecção: «Biblioteca "Eu Falo em Chamas"» #1
edição: Edições Quasi e Fundação Cupertino de Miranda / Centro de Estudos do Surrealismo
local: Vila Nova de Famalicão
ano: 2002
págs.: 240
dimensões: 22,5x15,1x2,2 cm. (brochado)
impressão: Papelmunde, Vila Nova de Famalicão
capa: Mimesis, Multimédia, sobre desenho de Cruzeiro Seixas
publicado por RAA às 14:08 | comentar | favorito
28
Nov 10

...

No silêncio das tapeçarias
há a memória
das terríveis batalhas
do imaginário.
Mas são ternas
as cartas que trocam entre si
os seus heróis.
É certo que as árvores cantam por toda a parte
a sua música
e que há enfim leões e elefantes
no centro de Londres ou de New York.
Agora a tua face está cravejada de ponteiros
e a manhã que acaba de nascer
regressa ao ventre materno.
Lisboa cobre-se de gaivotas.
Um gravíssimo excesso de grandeza
anuncia o Nada.

Áfricas 69

Artur do Cruzeiro Seixas
publicado por RAA às 23:27 | comentar | favorito
15
Jul 10

...

Nada me parece independente
de mim ou de ti.
O céu
o verde ou o azul do mar
este súbito cheiro a gasolina
a fábrica de cimento
uma gaivota no coração da cidade
a teia cerrada de fios telefónicos
sobre os nossos gestos.

Mas amanhã as formigas atacam as nuvens
mas amanhã as nuvens tecem escadarias brancas
até ao sol
onde sentado em belas janelas góticas
ao luar
uma parte de ti projectará
o sussurro líquido de uma fonte
há centenas de anos perdida
nos líquenes da serra de Sintra.
Então se instalará na lua o luto
e vegetais cortejos de velas
imporão a sua luz ao sol e ao vento, pálidos de susto,
frente aos espelhos moribundos
depois da exaltação suprema.

Áfricas 60
Artur do Cruzeiro Seixas
publicado por RAA às 11:30 | comentar | favorito
14
Jul 10

...

Levado pelas águas
sem jamais encontrar o mar
ferozmente atacado por uma flor
olho os dinossauros idilicamente
pastando nas margens. Que vejo eu?
Já não resta fóssil sobre fóssil
e só os náufragos ainda repetem os erros de ortografia
de continente em continente.
As plumagens agitadas das palavras são estandartes
atravessando o espaço e o sono
livres em toda a sua estranhíssima glória.
São os peixes esverdeados
que escondem sob as roupagens os labirintos
e as maquinarias prontas a investir
contra o paraíso.
A experiência impregnou as pedras da sua voz rouca
e as coisas são como um trítpico aberto
mostrando aos canibais perplexos
os nós mais secretos
daquele marinheiro alado.
Desfia-se já o fio que há séculos nos sustém.

Tenho frio
e imploro que me cubram com o dilúvio
ao som de trombetas exacerbadas:
que me cubram a mim e ao eco,
e à memória de tudo isto.
Estou ainda aqui,
e vejo
como um cego vê o mar.

Áfricas 62
Artur do Cruzeiro Seixas
publicado por RAA às 15:21 | comentar | favorito
12
Out 08

"Cada poema"

Cada poema
cada desenho
são os marinheiros que navegaram na minha cama
são uma revolução não só gritada na rua
são uma flor nascendo nos campos
e é o luar e a sua magia
e é a morte que não me quer
e é UMA MULHER
surpreendente como um marinheiro
luminosa como a palavra REVOLUÇÃO
tão natural como o malmequer
tão metafísica como o luar
tão desejada como a morte hoje
A MINHA MÃE
infinita e profunda
como o mar.

Artur do Cruzeiro Seixas
publicado por RAA às 05:00 | comentar | ver comentários (3) | favorito (1)