23
Abr 14

ACHE CHUTI

Tens livre o céu para o teu voo.

Que as tuas asas não fiquem inactivas.

É a liberdade!

-- Ave, na sombra da floresta,

A atracção do ninho

E a noite enganam-te se dizem

Que jamais deixarás o teu ramo.

-- É a liberdade!

Não sabes que esperança

Te acorda num cântico

Ao meio do teu sono?

Não sabes que entre a treva e a aurora

Está a esperança da luz que a aurora vibra

               Nos teus cantos?

Que é o desejo da luz

Que faz abrir as flores?

               -- É a liberdade!

 

Rabindranath Tagore

Poesias de Tagore

(trad. Augusto Casimiro)

publicado por RAA às 13:37 | comentar | favorito
07
Nov 13

LUZ! Ó MINHA LUZ!

Luz! Ó minha Luz!

Luz que enches o mundo,

Que beijas os meus olhos,

Doiras meu coração!

 

Ah! A Luz baila, a Luz baila, ó Bem-Amada,

No coração da própria Vida,

Faz vibrar, ressoar, -- aleluia! --

               A harpa do meu amor.

 

O céu acorda, o vento corre,

               A terra abre-se em risos,

A borboleta solta as velas irisadas

                No mar de Luz!

E os lírios e os jasmins,

-- Espuma alvente, --

Vão na crista das ondas!...

 

Luz, -- minha Luz!

Ó Luz que enches o Mundo,

Florindo cada nuvem

De oiro e de pedrarias!

 

As folhas da floresta

Respiram alegria,

Um infinito júbilo,

               Vindo de Deus... -- O Rio

               Do céu transborda, alaga o mundo

Em ondas de alegria.

 

-- Ó Luz, -- ó minha Luz!

 

Poesias de Tagore (1939)

versão de Augusto Casimiro 

publicado por RAA às 13:48 | comentar | favorito
12
Jul 13

PARA QUE AFLIGIRES-TE?...

Os teus hão-de deixar-te.

-- Para que hás-de afligir-te?

O frágil ramo verde

Da tua esperança há-de

Talvez cair quebrado

Antes de dar seu fruto.

-- P'ra que hás-de afligir-te?

A noite há-de cair

Por sobre o teu caminho.

-- Acaso poderás

Fazer parar a noite? --

Dia após dia, sempre

Hás-de acender a lâmpada.

E um dia a tua lâmpada

Talvez se apague... um dia.

-- Para que incomodares-te?

Ouvindo a tua voz

Os bichos da floresta

Virão a ti... No entanto,

Talvez em tua casa

Os corações de pedra

Não possam entender-te...

-- P'ra que serve afligires-te?

Se a porta está fechada

Vais-te, deixas a casa?

Bate à porta, persiste,

Empurra-a dia a dia.

          E talvez essa porta

          Nunca chegue a ceder...

Mas para que afligires-te?

 

Poesias de Tagore

(versão de Augusto Casimiro)

publicado por RAA às 13:12 | comentar | ver comentários (2) | favorito
04
Dez 10

A FLOR DA TUA GRINALDA

Um dia
Não sei
Por que merecimento,
Graças a que virtude,
-- Ó Beleza, --
Eu, flor do bosque,
Figurei na grinalda que te rodeia o colo.
     -- Então,
Ao romper da manhã,
Os primeiros clarões da aurora
Pareceram mais belos
À terra que descerrava os olhos...
..............................................................
     Agora
Que desfalece o dia
Na luz que morre e nos cantos das aves,
Se, na sua extrema lassitude,
Batida pela brisa do crepúsculo,
     A flor tombar por terra,
Que ela siga os teus passos
     Para sempre, -- ó Beleza! --
Sem que a macule nunca
     A poeira do caminho!

Rabindranath Tagore

(Augusto Casimiro)
publicado por RAA às 16:20 | comentar | favorito