02
Jan 13

VELHICE

depois de todas as tragédias

que resta para viver?

uma rotina doméstica

um amor tequila

uma paisagem ecstazy

uma praia de cães histéricos

recordações rememoradas vezes sem conta

por velhos amigos saudosistas relapsos e frouxos

em esplanadas com vistas para gajas que nos fodem os miolos

e depois? ah os aniversários, as festas e as comemorações banais

os casamentos acabados bestialmente em cornos bestiais

os eventos privados de suites bacanais

swings sodomitas e escapadelas amantes

as saídas de emergência apressadas de armários e guarda-fatos

fruto de longas insónias meditadas à mesinha de cabeceira

ou na net puta toda a tua imaginação rameira

deram lugar a distintos funerais e divórcios da vida

um dia estaremos impávidos e serenos na nossa missa de

corpo-presente

espreitando o sorriso do nosso cadáver triste

inaceitável e incrível: mas fica mal faltar, compreendes?

 

Dinis H. G. Nunes

(Sulscrito #10)

publicado por RAA às 13:25 | comentar | favorito
03
Ago 12

DEUS NÃO É FANTOCHE... SENÃO EXISTIA

não conheço maior ficção que a vida

e mesmo quando ela acaba, continuamos a ficcionar:

ficcionámos tanto desde a invenção da escrita, que criámos

inúmeros deuses à medida das posses de cada um.

adoro sobretudo o elefante: garante-me paz, protecção e

memória de cemitério. um deus só, sabe-me a pouco e torna-se

demasiado monótono, monogâmico, monocórdico, chato pronto

-- daí dizer-se religião monoteísta, além domoneyenvolvido,

claro, acresce essa carga fascista.

 

Dinis H. G. Nunes

publicado por RAA às 17:37 | comentar | favorito